Turma aprende Libras para 'falar' com colega surda
12:56:00Kamila R. Brito
Alunos do 2º ano da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes interage com Rafaela pela Língua Brasileira de Sinais
Rafaella Vitoria, 8 anos, é uma aluna com surdez. Mas isso não impede a sua interação com os colegas do segundo ano do ensino fundamental na Escola Básica Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes, no Campeche.
Pela manhã, duas vezes por semana, sob o comando do professor Renato Nilson das Chagas e da intérprete Kátia Sandra Santos Hilarião, a turma aprende a Língua Brasileira de Sinais. O trabalho é realizado desde o ano passado, quando Rafaella e o grupo entraram na unidade educativa da Secretaria de Educação de Florianópolis.
Durante 45 minutos, a dupla de profissionais ensina a Libras para os 24 coleguinhas de turma da Rafaella. A técnica leva em consideração a localização das mãos em relação ao corpo, expressão do rosto e movimentação que é feita no momento de produção de sinais.
As crianças praticam a Língua de Sinais através de atividades e brincadeiras. Jogando forca, Renato coloca o número de letras no quadro e os pequenos respondem fazendo os símbolos correspondentes. Mímicas também ajudam no aprendizado. Um aluno encena a ação da vez e os demais tentam adivinhar utilizando a linguagem de sinais.
Crescimento e desenvolvimento
Renato destaca a importância do trabalho realizado. “Busco ensiná-los de forma lúdica e divertida, utilizando jogos e brincadeiras. Alunos com surdez e ouvintes aprendem juntos a língua de sinais de forma a garantir a comunicação entre todos. Essa comunicação os faz crescer e os ajuda no desenvolvimento”, avalia Renato.
Rafaella conta que gosta bastante das aulas de Libras e que adora ver os colegas aprendendo junto com ela.
“Um tem o olho mais puxado, outra tem uma pintinha no rosto”
Segundo a professora regente Maike Moser, a interação entre a turma é ótima. “Eles sempre a chamam para brincar e sempre a integram nas atividades”, diz. “Até mesmo com os alunos de outras turmas ela brinca. Todos a acolhem”, complementa.
Cada aluno é representado por um sinal, que é escolhido de acordo com alguma característica marcante. Isso facilita a comunicação entre eles. “Um tem o olho mais puxado, outra tem uma pintinha no rosto, e é isso que utilizamos para os sinais de cada um”, diz a educadora.
Todo apoio
Rafaella participa de atividades no contraturno em dois dias da semana. Também acompanhada de Renato e da professora de Atendimento Educacional Especializado Tatiane Ramos da Silva, ela passa a tarde aprimorando seus conhecimentos da linguagem dos sinais e do português, dando continuidade ao que é visto em sala.
“A Rafa é muito querida, linda”
A pequena Gabriela da Silva, colega de Rafaella, gosta muito das aulas,pois acha importante saber se comunicar com pessoas com surdez. “Eu adoro as aulas. São muito divertidas. E a Rafa é muito querida, linda, pede as coisas com jeitinho e sempre brinca comigo”, conta.
Palavra de mãe
Cristina do Carmo Quinapp, mãe de Rafaella, relata que, com o ensino de Libras para toda a turma, a pequena se sente incluída e acolhida. “Não adianta querer inserir o surdo no mundo do ouvinte e não inserir o ouvinte no mundo, na realidade do surdo. Isso é inclusão”. Segundo ela, a pequena se sente ainda mais parte do grupo devido ao fato de que, na unidade, apresentações artísticas como teatro são realizadas com o uso da linguagem de sinais.
Professor vira aluno
Não só os alunos aprendem Libras. Maike, assim como outros três professores e quatro pais, participa de aulas noturnas realizadas na unidade. Renato ministra as atividades duas vezes por semana, das 17h30 às 19 horas.
Origem da Libras
A Língua Brasileira de Sinais tem estrutura e gramática próprias e é utilizada para a comunicação entre surdos assim como entre surdos e ouvintes. Possui o alfabeto manual, através do qual são soletrados nomes próprios e palavras que não possuem sinal próprio.
A Libras é composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como semântica, gramática, sintaxe e outros elementos, preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerada instrumento linguístico de poder e força.
0 comentários